quarta-feira, 4 de abril de 2018

Teatro - Mário ou eu próprio-o-outro Na Sala Estúdio do Teatro da Trindade


Mário ou eu próprio-o-outro 
Na Sala Estúdio do Teatro da Trindade 
INATEL


Quis o destino, ou outra força desconhecida, como a coincidência, que criássemos esta produção no ano do centenário da morte do seu protagonista: Mário de Sá-Carneiro. Esta vontade da companhia em recriar cenicamente o texto de José Régio, fantasiando o dia do suicídio do seu amigo Mário, estava na gaveta das nossas vontades, e este ano decidimos tirá-la de lá. 

Assim, surge esta criação artística, de artistas, sobre artistas, através de artistas e para todos. O poeta e contista Mário de Sá-Carneiro, é o protagonista, José Régio, o autor. Ambos homens das letras. Amigos. Artistas. Loucos. Como se a loucura pudesse ser sempre identificada. 

Ambos se confrontavam com dualidades, com alter-egos, com contrastes e cobiças projetadas em alguém deles próprios, mas camufladamente privados, íntimos. No caso de Fernando Pessoa, amigo bastante próximo de Sá- Carneiro, podemos dizer que acontecia o mesmo, mas manifestado de forma diferente. Pessoa não só se recriava enquanto vários Outros, mas também dava a conhecê-los. Mário escondia o eu Outro de todos, porque o escondia de si, exorcizando-se dele apenas nos seus textos. 

Esta projeção era construída através dos reflexos dos seus antagonismos, servindo-se dela para o fazer sentir rebaixado e vitimizado, uma forma de estar que cada vez mais começou a tomar conta deste artista, fruto da sua loucura, ou estranha razão, mas sempre e progressivamente com tendências depressivas, e, mais tarde, suicidas. Foi assim que encontrou a solução para que o outro o deixasse em paz, tomando uma forte dose de estricnina. 

Régio, através das suas palavras, conta esse momento; cartas entre Mário e Pessoa ilustram esses pensamentos, e com estes ingredientes, nós criámos este espetáculo.

Sinopse 

26 de abril de 1916, Mário de Sá-Carneiro suicida-se em Paris. Na verdade, não se suicidou, foi suicidado. Pelo Outro, por ele próprio, o espelho de uma mente instável e revoltada em si, de si, para si. Este espectáculo vem propor um tecido cénico e performativo a este episódio, escrito por Régio e com textos das cartas de Fernando Pessoa, recriando uma relação entre dois personagens com génese apenas num.

A atuação das palavras e os diálogos visuais são criados num jogo de conflito, submissão, superioridade e loucura. Os dois personagens não procuram ser o oposto um do outro, mas sim a personificação de desejos e diferenças que Mário almejava. E deu vida ao Outro. E o Outro, deu-lhe a morte. 

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