Prémio da União Europeia para o Património Cultural / Prémios Europa Nostra 2018
Jardim Botânico do Palácio Nacional de Queluz vence Prémio Escolha do Público
- Portugal vence pela primeira vez Prémio da Escolha do Público, do Prémio da União Europeia para o Património Cultural / Prémios Europa Nostra 2018
- Galardão foi atribuído na Cerimónia dos Prémios Europeus do Património Cultural em Berlim
- Projeto tinha já conquistado o Prémio da União Europeia para o Património Cultural / Prémios Europa Nostra 2018, na categoria Conservação
- Prémio representa reconhecimento internacional de realizações notáveis no domínio da conservação e do património
Berlim, 23 de junho de 2018 – A Parques de Sintra venceu o Prémio da Escolha do Público, do Prémio da União Europeia para o Património Cultural / Prémios Europa Nostra 2018, com o projeto de reabilitação do Jardim Botânico do Palácio Nacional de Queluz, alcançando desta forma uma distinção nunca antes conquistada por uma instituição nacional.
O galardão foi atribuído ontem, 22 de junho, na Cerimónia dos Prémios Europeus do Património Cultural, que decorreu no Centro de Congressos de Berlim, no âmbito da primeira Cimeira Europeia do Património Cultural, e contou com a participação do Comissário Europeu para a Educação, Cultura, Juventude e Desporto, Tibor Navracsics, do presidente do Europa Nostra, Plácido Domingo, e do Presidente da República Federal da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, na qualidade de patrono do Ano Europeu do Património Cultural na Alemanha.
“Ser distinguido pela Europa Nostra na categoria de conservação é para nós, uma honra e um privilégio. Mas é sobretudo um estímulo para todos aqueles que se empenharam em recuperar a memória de um espaço vazio”, sublinha o presidente do Conselho de Administração da Parques de Sintra, Manuel Baptista, agradecendo ainda “a todo o público que reconheceu mérito neste projeto através do seu voto”.
Na cerimónia foram distinguidos os 29 vencedores de 17 países do Prémio da União Europeia para o Património Cultural / Prémios Europa Nostra 2018, anunciados no passado dia 15 de maio, nas categorias conservação, investigação, serviço dedicado e educação, formação e sensibilização. Estes prémios foram atribuídos por um júri de especialistas independentes e representam o reconhecimento internacional, ao mais alto nível, de realizações notáveis no domínio da conservação e do património.
O projeto de reabilitação do Jardim Botânico do Palácio Nacional de Queluz juntou, assim, ao Prémio da União Europeia para o Património Cultural / Prémios Europa Nostra 2018 na categoria Conservação, o Prémio da Escolha do Público, conquistando desta forma uma vitória inédita para Portugal.
No total foram apresentadas 160 candidaturas por organizações e particulares de mais de 31 países europeus. Os prémios deste ano dão particular ênfase ao valor acrescentado gerado pelos projetos no âmbito do património, como forma de contribuição para o Ano Europeu do Património Cultural.
Reabilitação do Jardim Botânico
O Jardim Botânico do Palácio Nacional de Queluz foi construído entre 1769 e 1780, sendo contemporâneo das grandes realizações setecentistas do período barroco-rococó. De pequena escala, quando comparado com outros jardins botânicos desta época, Queluz assume uma natureza de entretenimento e recreio.
Sucessivamente destruído por fenómenos naturais e abandonado, o espaço perdeu a sua função original, tendo sido transformado em roseiral em 1940. Em 1984, na sequência das cheias de 1983 que afetaram fortemente esta zona, foi desmontado e transformado em picadeiro da Escola Portuguesa de Arte Equestre.
Em 2012, a Parques de Sintra assumiu a gestão dos Jardins e Palácio Nacional de Queluz, e iniciou um processo de investigação histórica e sondagens arqueológicas que possibilitou o restauro deste local.
O projeto ganhou ânimo com a descoberta e identificação de diversas cantarias - das fundações das estufas, do lago central e de estatuária - que tinham sido desmontadas em 1984 e entretanto integradas, ou esquecidas, noutros pontos dos Jardins.
"Este projeto foi bem-sucedido na redescoberta e recuperação de um jardim que se pensava perdido. Para isso recorreu-se a investigação arqueológica, à análise dos fragmentos restantes do jardim e da documentação existente", sublinhou o júri do Prémio Europa Nostra.
A recuperação do Jardim Botânico consistiu na reposição das quatro estufas, de acordo com a interpretação dos desenhos históricos, e contemplou ainda o restauro dos elementos pré-existentes, nomeadamente as balaustradas, os alegretes e respetivos bancos e painéis azulejares, as cantarias do lago central e a estatuária, com vista à restituição do desenho oitocentista do Jardim.
Foram também executados caminhos em saibro granítico, que delimitam 24 canteiros, representando os espaços necessários às plantações representativas das 24 ordens de plantas de Carlos Lineu (botânico, zoólogo e médico sueco que classificou hierarquicamente as espécies de seres vivos). Nas bordaduras dos canteiros foram plantadas aproximadamente 10 mil plantas de murta.
O Index de Manuel de Moraes Soares, datado de 1789, que reúne as espécies existentes na época no Jardim Botânico de Queluz, serviu de base para a constituição da coleção botânica. A partir desta listagem foram contactadas várias instituições a nível mundial que forneceram plantas e sementes para o local.
No interior das estufas, e de acordo com os registos históricos encontrados, foram plantados ananases, produzidos em tempos para os banquetes de Queluz.
"O projeto é um excelente exemplo de colaboração interdisciplinar que envolveu também a comunidade local. A divulgação dos resultados foi forte e possibilitou a conclusão do projeto. Isto irá criar sensibilização quanto aos resultados e garantir a sua sustentabilidade", acrescentou o júri do Europa Nostra.
O Jardim Botânico foi inaugurado em junho de 2017 e a sua reabilitação representou um investimento de 815 mil euros.